domingo, 14 de novembro de 2010

Surfing In Vita.

Este texto vai soar-vos um pouco a ‘deja vu’, de um outro de Pedro Adão e Silva chamado “A Vida A.S. e D.S.”, no entanto, depois de ler esse artigo, não pude deixar de escrever um pouco sobre a história de Nuno Vitorino e tantos mais que, de uma forma ou outra, nasceram de novo depois do surf.
Por vezes fico a reflectir se o surf é mesmo para todos, ou se é ele que nos escolhe. Quase como quando falam de Deus às crianças. Dizem-lhes que Ele não escolhe ninguém mas é preciso estar-se aberto e predisposto para verem, para sentirem e para entenderem, logo, por um lado, existe uma certa selecção natural.
Ele não pode ajudar nisso, seguidamente, os que não estão também não vêm, não sentem e não entendem.
A meu ver, assim acontece com o surf. É urgente estar-se aberto e predisposto a sentir o que mais de espectacular o mar e a Natureza nos têm para oferecer, é preciso amar, é preciso querer muito, é preciso falhar e voltar a tentar, é indispensável ver as ondas com outros olhos para se ser surfista, com S grande, para que o surf nos envolva e não só faça parte, como se transforme no nosso modo de vida.
Como dizia nas outras letras, Nuno “ficou tetraplégico desde os dezoito anos quando foi ferido acidentalmente por um disparo de uma arma de fogo manuseada por um amigo”, mas não desistiu da vida, não se limitou à existência e foi atleta paraolímpico.
Como digo, o melhor que a vida nos oferece somos nós mesmos. Ainda tinha isso na gadanha e não desperdiçou.
Agora, aos trinta e dois anos, faz surf. Se foi predilecto ou não, não consigo apurar. Mas é surfista: faz, sente e entende.
Com um conjunto de amigos criou o “Estado Liquido”, para ajudar jovens com deficiências a superar todas as contrariedades que o surf ostenta.
Nuno contemplou nesta experiencia de contacto com a água, com o sal, e com o sol, uma nova vida. Ou melhor, a vida. Viu no mar uma forma de ajudar os outros, um objectivo, uma razão para alguma coisa. Sentiu uma recompensa momentânea pelo esforço.
Já nos Açores, mais especificamente na Fajã da Caldeia de Santo Cristo, situada na ilha de São Jorge, a paixão pelo surf falou para alem da razão.
Carlos Valério, tem cerca de trinta e seis anos, dos quais, sete passou a viver sozinho neste paraíso.
Construiu uma casa de raiz na fajã e reformulou completamente o seu estilo de vida. Surgiram muitas dificuldades a nível profissional e pessoal, o surf e a paz que ele nos oferece deram-lhe uma nova filosofia, mostraram-lhe um novo rumo.
“O preço da saúde é sem duvida o mais caro”, diz-nos ele.
Quantos Carlos existem por ai fora? Quantas são as criaturas que jogam com o relógio para poderem surfar uma hora por semana? Uma não, mas, a hora por semana.
Quantos não o vêm como vida dentro da rotina? O desejo, a crença.
Em Santos, no Brazil, Valdemir Pereira de trinta e sete anos, com tem deficiências visuais, quis surfar.
Sentiu, de certo, uma vontade de entrar na harmonia das vagas, de sentir o sal da água a fugir-lhe dos pés, a energia, o poder, uma vontade gigante de ter o bom sem o mau.
“Os sentidos estavam alerta para a direcção do sol, os retrocessos da maré, o som das ondas.” O surf no seu estado mais puro.
“Uma pessoa não está limitada ao que vê.” – disse Val que sonha em poder dar aéreos e ter a sensação real de voar.
Depois do surf, sentiu coragem para tentar outras actividades como a capoeira.
Superar os limites é uma forma de demonstrar que deficiência não equivale a falta de capacidade ou inteligência.
E, fora destes casos extremos, existem resmas de casos em que este desporto (se assim o podemos avaliar) mudou, continua a mudar e dar vida a muitas pessoas.
Ocupando ele o estatuto de refugio, de paixão, de utopia, de vicio, de estado de liberdade, de companhia, de compensação, de razão, de felicidade… ou qualquer outro, conforme quem conta, facto é que existe mesmo “A Vida A.S e D.S.”, marcada pela desfiguração das pessoas arcaicas e triviais.

2 comentários:

  1. Rodolfo Felipe ( Brasil )7 de janeiro de 2012 às 16:31

    Belo texto acabei de ler na Parafinamag...
    Parabéns pelo blog que emana energia positiva sempre que tenho tempo dou uma passada por aki para refletir e compreender sobre os significados das coisas simples da vida que geralmente passam despercebidas em nosso cotidiano e que você trata de forma simples e clara.

    Obrigado

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