terça-feira, 6 de março de 2012

NOVO BLOG

Agora estou aqui: www.surfpurified.wordpress.com ;)

Podem acompanhar e seguir.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

NEWS!!

Eu não deixei de escrever.

Poderia agora contar todos os projectos em relação à escrita e ao Surf, mas convido-vos a acompanharem-me em: www.facebook.com/carolinasalgueiropereira
... devo passar-me para um novo blog no Wordpress, devido a um grande projecto.

Obrigada a todos. Beijinho e Boas Ondas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Skenario.


"A natureza é sábia e justa. O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as folhas tenham o seu momento de ver o sol."
(Humberto de Campos)

Em várias ocorrências utilizamos a expressão “por vezes temos de dar um passo atrás para dar dois em frente”, ou algo semelhante.
Claro que,tal como em todos os ditados, o 'geral' irá posteriomente ser contextualizado no 'particular'.
E o que quero aqui deixar registado é que, pelo menos neste “skenario”, em algumas situações, o melhor seria mesmo não dar nenhum passo.
Tenho a sensação que um excessivo número de indivíduos não se sabem alegrar com o que têm, ou tentando explicar melhor, existe uma ganância tão desmesurada por mais que nunca chegam a usufruir do presente e a perceber que, por vezes, mais do que o que presenciam… é menos, é ser mais estéril.
Nenhuma acção é inútil, não deixemos de fazer apenas porque é pequena.
Vou evocar imediatamente um slogan da Natura que acho indispensável: “Think globally, act locally(Pensar globalmente, actuar localmente).
Existe a estranha e lerda cobiça por ver maior, por “anexar” e aumentar.
Nós aprendemos um pacote de valores desde crianças, mas é de reparar os bastantes que não aprendem a calma e o saber esperar. Sei que muitos ao lerem estas letras tão inocentes quanto quem as escreve, me acusariam neste momento de que só digo o que digo porque nunca nada me levou a dizer o contrário e, provavelmente, começariam a enumerar condições onde seria difícil de usar a calma.
Eu não sei tudo, não experimentei tudo, mas sei que em qualquer situação acho sempre preferível usar a calma como primeira opção.
Neste caso que vos quero falar, antes de mais e sem demoras, aplica-se à letra, ao milímetro e ao segundo.
Já experimentaram correr pelas dunas, sentar, inspirar ar puro, sentir o sol a afagar a cara, encaixar as mãos na areia branda e estar em harmonia com a Natureza?
Tentem acompanhar o meu ritmo agora que a música toca alto e viva.
Não gostavam que, a modo de exemplo, os vossos amigos, primos e filhos, em certas alturas, pudessem daqui a um tempo ver as mesmas paisagens que vocês?
Não gostariam que os vossos filhos pudessem ir surfar um fim-de-semana à Costa Vicentina (o que me levou a escrever esta crónica) e estar em contacto com a Natureza esculpida tal como é?
Uma longa costa, limpa, viva, pura, sem "caixotes" , sem “Homem”.
“O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as folhas tenham o seu momento de ver o sol”… não deveríamos também nós, que nos dizemos avisados e lutamos por ser justos, preocupar-nos em que todos, daqui a uns anos, também possam “ver o sol” tal como o vemos, nas condições em que vemos?
Não deveríamos lutar por manter estes pequenos paraísos na terra?
Por vezes, até o maior artista das letras e das frases não consegue descrever momentos específicos, paisagens de tal forma simples que não temos ao alcance dizer mais do que isto mesmo.
O crescimento sustentável não se prende por travar a construção, mas sim garantir a satisfação dos que agora cá estão não esquecendo os que ai estão para vir.
Assim como nós gostamos de mostrar o melhor da nossa casa aos convidados, dar o nosso melhor aos que mais gostamos, assim como gostamos que sejam justos connosco, que guardem para nós e que esperem por nós.
A vida não se vai resumir ao nosso vizinho, à nossa casa, aos com que nos cruzamos agora na rua. Existe vida para além desta, é um facto, mesmo que não seja a nossa.
A política está em tudo. Eu que não gosto de politica (no entanto, procuro informar-me e dou o meu voto, como direito que nos foi alcançado) descobri que, afinal, até gosto.
Não gosto é da 'política dos políticos' e sim da 'política das pessoas'.
Gosto de ver as coisas acontecerem.
Gosto de politica quando é, realmente, um veiculo/meio para melhorar alguma coisa e não um esquema de conveniência.
Este fim-de-semana fui com os SOS Salvem O Surf, uma organização composta por voluntários que pretende salvar ondas e orlas costeiras… E, (eureka!), que descobri a grande divergência.
Como somos todos voluntários, estamos todos para o mesmo, não existem segundos interesses, estamos a dar de nós mesmos em prol do igual objectivo.
E é isso que falta na política tal como a conhecemos: estarem todos com o mesmo propósito, como se diz, “sem corantes nem conservantes”. Uma finalidade genuína.
Assim, com menos ou mais, as coisas são o que são... acontecem e fazem acontecer.
Imploro para que as pessoas tenham esta consciência da união, do pequeno passo que se vai engrandecendo durante a andança.
Faltam-nos experiências, culturas e horizontes!
Falta-nos gritar, fazer-nos ouvir!
Falta-nos ver e sermos vistos.
Falta-nos, à sociedade em geral, 'Ser'.
Falta-nos ser como a Natureza, sábios e justos, para podermos dar aos outros o que nos foi dado.
Os interesses não são incompatíveis com os valores.
O progresso não é incompatível com a preservação.
Quero que daqui a uns anos todo o ser humano, que tenha em sua vontade a mesma que a minha, a possa substanciar.
Quero que esse alguém possa pisar a mesma encosta que eu, sem fumo no ar, em sintonia com os animais donos das terras, olhar o horizonte sem que nenhum fragor lhe corte a paz de espírito, possa abrir os braços, fechar os olhos, sentir o que quer sentir, onde quer sentir.
E, principalmente, que possa lá voltar podendo ter as condições para sentir exactamente o mesmo.

sábado, 12 de março de 2011

Bleach-free Process.

Preciso do escrito para escrever.
Não conseguiria escrever sobre o calor do sol nos galhos e no rosto se, de facto, não o estivesse a sentir.
Não conseguiria escrever sobre o silêncio se, de facto, não o estivesse a ouvir.
Não conseguiria escrever sobre a necessidade de paz se, de facto, não estivesse a carecer.
Normalmente escrevo ao som de uma música que se adeqúe ao que quero transmitir, em que a balada é o ritmo com que desejo desenhar os meus parágrafos, marcar as minhas vírgulas e definir os pontos finais.
Sempre a mesma música, a repetir, até que a crónica esteja melodicamente findada.
Esta é a minha primeira ausência de som.
É este mesmo ritmo que quero levar: calmo e silencioso.
Todos temos necessidade de compreender certas coisas, mas por vezes não deveríamos simplesmente tentar afastá-las da nossa mente?
Não nos deveria ser oferecido o tempo para termos tempo para alguma coisa?
Ou a calma para podermos decidir o que queremos e não queremos que nos ocupe?
Ou o silêncio para escolhermos o que queremos escutar?
Poderia agora dizer, como seria esperado, “Passo a explicar”, mas não. Tal como as ditas “maçadas” que se metem à frente no caminho que mais ou menos vamos tentando esboçar e não são explicadas, eu não irei explicar nada… alguém irá entender, com a tranquilidade e os minutos necessários para isso.
Existe um agregado de pessoas que tenta sentir a Natureza, viver na paz e respirar.
Não compreendo qual é a urgência de tantas outras complicarem o que é (e não é) complicado, de procurarem sempre mais ansiedade e revolta para o espírito.
Não compreendo o porquê de não filtrarem o importante do secundário.
Será para eles a tranquilidade incomodativa?
Será para eles o cheiro natural desagradável?
Não assimilo a confusão sabendo que tanta confusão carrega.
O falso e o confuso existe, sem ser preciso nada mais.
Existe também pessoas para as quais não existe.
Chega. Não tenho de compreender.
Ainda que compreenda, tal dúvida não irá desaparecer.
Ainda que compreenda… não irei entender.
Preciso e penso que precisamos (permitam-me esta ousadia de arbitrar) de calma e silêncio.
Calma e silêncio para escolhermos o que nos ocupa e nos gasta, o que nos confia e devemos confiar.
Tudo e todos são tão breves, tudo e todos temos erros, defeitos… mas tudo (quase tudo) e todos (mas nem todos) temos algo de bom, de bonito, de eterno.
No meio da nossa rotina, mais ou menos arrojada, no meio da nossa estrada, seja mais ou menos cobiçosa, vão-nos aparecendo pedras no sapato, correntes no mar, silvas na relva…
Algumas vezes pego na prancha e enquanto lhe renovo o wax penso em tudo o que tenho para resolver, deixo que a confusão se apodere da minha alma e quase como automaticamente, todas as pessoas, todas as citações e todos os problemas tomam o mesmo peso.
Atropelam-se, empurram-se para entrar no metro, gritam uns com os outros, mentem descaradamente em nome de um nada que não passa de cobiça, maldade ou… um nada com nada a justificar.
Nesse momento desconfio, riu-me para dentro enquanto choro por fora, ou riu para fora enquanto choro por dentro. Nem sei bem o que faço.
Duvido que essas vozes também saibam o que contam.
É como se num café ao fechar os vistos, ouvisse muitas pessoas a conversas, risos, discussões, desabafos e lá no cavado… o som das teclas de um piano (ou de um violino), a calma, o silêncio a tocar, a melodia do jeito.
Fácil de se entender este processo.
Depois, onde realmente importa alguma coisa, existe uma voz que se cala em cada rasgada, um amigo que se destaca em cada remada, um objectivo que se levanta em cada tubo, cada parede, uma despoluição… Paz.
Sento-me na prancha, cansada, e separo o útil do agradável, quem quero de quem não quero, o que quero do que deveria querer, o importante do urgente, o que faz parte da vida do que é a minha vida.
Escolho prejudicar-me por algo que considero essencial, escolho não escutar todas as pessoas mas deixar apenas umas três ou quatro (e o piano que entretanto se transformou numa guitarra velha), escolho simplificar, sentir e ser.
Escolho principalmente ser. Escrever o escrito.
Esquecer a corrente e ver a cor da água do mar, sentir a sua textura (se é que o mar tem textura) e ouvir as ondas rebentar. Tentar ter de tal forma os ouvidos apurados que consiga ouvir a formar a vaga, o crescer, o criar. Tenho uma ideia!
Uma concha em cima de uma rocha, estão a ver?
Simples.
Não preciso que seja uma concha muito grande e especial, nem uma rocha que se transfigura. Apenas: uma concha em cima de uma rocha.
Apenas o apenas e apenas isso.
Existem famílias que se vão separar pela natural complicação que a vida carrega, mendigos por injustiças, presos por mentiras, pobres por egoísmo, velhos que nunca foram jovens, jovens que sabem que não chegaram a velhos, existe amor sem comodidade, amizade sem interesse, a oportunidade de errar e do arrependimento, a calma existe, a paz de consciência e… a satisfação.
Fácil de entender este processo.
Fácil de entender que é preciso parar para avançar.
Fácil de entender que se deve escolher o deveras sentido.
Eliminar as segundas vozes, os figurantes, e encarnar a nossa personagem favorita.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Duckdive no Facebook.

O Duckdive já está no Facebook.
Adiciona e mantem-te a par das novidades!

Duckdive

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dankie, beste vriend.

O lápis pousou na folha com leveza. Manteve-se estático.
Queria escrever mas não sabia bem sobre o quê. Faltava a inspiração, o tempo, a calma, mas ainda assim… queria rabiscar.
Por vezes é complicado escrever um texto sem que tenha o ambiente propício a isso.
Cais do Sodré, 13h46.
Estou sentada à beira rio, com o cheiro do marulho muito sentido, rodeada de gaivotas, musica nos ouvidos.
Apesar do vento, do frio e das gotas de água que de vez em quando me batem nas mãos, não trocaria (e de certo muitos de vocês também não) pelo quente do café, a mesmice das paredes.
Depois, devagar, a caneta já se movia, desenhava letras e símbolos no papel e eu ainda não me tinha decidido.
Parecia que a mão, com toda a vontade que tinha em escrever, tinha-se conseguido libertar do resto do corpo, tornar-se independente.
A mão era um corpo, com cabeça, tronco e membros, maior e vacinada, que agia por si só.
Deixem-na crescer e tornar-se responsável pelos seus actos!
Os olhos começaram a fechar, negavam a imagem certa do que se estava a passar.
Senti um sopro na cara. Vi, de novo, a minha mão, mas eu estava na água, sentada na minha prancha.
É impressionante aos outros como é que nós, surfistas, amantes do mar, temos sempre tendência em estar mais perto da Natureza.
Esta urgência, quase ‘desespero’, esta insistência em sair do dito ‘normal’, do socialmente rotineiro.
Queria surfar. O corpo estava vegetal e só acordaria daquela espécie de coma para apanhar uma onda.
Tirando essa situação, continuaria estanque, morto no movimento. Salvo a mão, que continuava a dançar e desenhar círculos de cores.
Sempre que estou na água sinto que é o local certo onde deveria estar naquele momento, mas desta vez, havia qualquer coisa de errado.
A mão, essa, continuava a passear entre as milhares de gotas, ansiosa por me dizer algo.
Nós perdemos, nós ganhamos. Temos aquilo a que chamamos de liberdade.
Somos todos livres, mesmo existindo relações a que damos vulgarmente o nome de ‘amizade’ ou ‘amor’ para nos juntarmos em grupos, para fazermos parte de alguma coisa e sermos, realmente, alguém.
Se formos a tentar saber qual é o valor de mil pessoas no Universo, não é praticamente nenhum. Parecemos insignificantes formigas, tontas, no nosso minúsculo Universo, criado à nossa medida.
Vivemos, muitas vezes, como se não existisse mais nada para alem disso, para além das leis a que estamos sujeitos, nada para alem da nossa ‘costa’, nada para alem dos afazeres, nada para alem do que vemos.
Vivemos com o que as outras formigas nos dizem ser certo.
Mas, deu-me para pensar no que efectivamente nos torna diferentes e faz com que a nossa existência seja preciosa. São as ligações, as relações. Essas, são a razão.
Existem, no meio do formigueiro, algumas ou alguma que nos faz pensar que seriamos capazes de abdicar de nós mesmos pela ‘amizade’.
Todos crescemos e somos atropelados uns pelos outros, apesar de irmos todos para o mesmo lugar. Todos envelhecemos, perdemos, mas nem todos esquecemos.
Esquece quem não tem de quem se lembrar. Não sejamos tão impertinentes com a vida. Lembrei-me de quem, daqui a uns anos, poderia nunca mais ver. Lembrei-me de quem, daqui a uns anos, ainda me vou lembrar. Espero, claro, conseguir continuar com esta união. Também vocês esperam continuar com algumas das vossas, mais do que as outras. Espero conseguir ver se teve sorte, se continua a mesma, se está a sair-se bem, se tem quem faça o que faço agora por ela.
Vamos refrescando as nossas relações, fazendo ‘upgrades’.
Mas existem sentimentos que não mudam.
Existem formigas que valem mais que as mil, por quem subíamos ao monte mais alto e abanava-mos uma bandeira branca com toda a pujança, para tentarmos aumentar o nosso tamanho, por quem parávamos o mundo para as deixar passar, por quem quebramos esta nossa rotina, esta nossa vida egoísta por natureza.
As pessoas, pelo menos como essa de que me lembrei, valem a pena!
Aliás, são o que nos torna imensos, o que nos faz estar, o que nos faz ficar, ir e voltar. Se uma pessoa, por mais minúscula que seja, consegue marcar a vida de outra, pelo menos na medida em que o seu ‘estatuto’ não muda ano após ano, então, não seremos assim tão pequenos, tão fracos, tão insignificantes.
Existem pessoas por que faz sentido perder o comboio para apanhar o próximo, por quem vale a pena esperar para podermos ver uma nascente em conjunto, por quem vale a pena correr, acreditar, surfar, escutar… ser.
É um ciclo. Todos nos movemos por alguém, ou por alguns ‘alguém’.
E, infelizmente, todos nos esquecemos dia após dia de agradecer a quem devíamos. Esquecemo-nos de lhes agradecermos por nos chatearem, por nos ‘esmolarem’, por nos cansarem, por nos fazerem sentir pequenos ao lado deles.
Se não fosse isso, não faria sentido cá estar.
Agradecer por nos gastarem, por fazerem de nós úteis, por fazem de nós alguém no meio da multidão.
Uma das pernas tocou na outra com o balanço das ondas e, aos poucos, fui começando a sentir-me. O coração gritava, os músculos enrijavam, e os braços remavam com toda a força.
Acordei! Não estava a surfar de facto, continuava sentada, no Cais do Sodré, e eram 14h24.
Ah! Mas, antes que me esqueça, obrigada.
Dankie, beste vriend.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Criolo.

O que somos nós afinal, se não um pouco do que os nossos são?
A vida faz questão de nos recordar de vez em quando que não estamos sós.
Não tenho muito tempo, mas tenho-o. Calma.
Se fizermos um pequeno esforço ou tentarmos encontrar um pouco de tempo mesmo quando o tempo já é pouco, conseguimos listar uma multidão de situações em que alguém, seja por obra da casualidade ou não, nos lembra de que sozinhos e apagados dos outros, não passamos de vultos, servos da confraria.
Neste primeiro dos cinco dias, não me apetece falar do surf na Cortegaça, das ondas da Torreira ou do vento de Espinho. Valeu-me a viagem de autocarro. Valeu-me ninguém.
Com ou sem alguém, estava sentada junto à janela, de pernas e cabeça dobradas sobre o bloco em que agora pouso o lápis.
Deixava que o sol me enroupasse a cara, que as árvores andassem para trás e os traços brancos do chão fossem engolidos enquanto tentava decifrar o que é que passeava na minha cabeça nesse urgente instante.
Não estava fácil. Fosse o que fosse, devia estar escondido, prudente e… sozinho. Tal como eu, tal como nós.
Nisto, numa das várias vezes em que o autocarro quebrou o seu ritmo de acelerar e o meu de meditar, reparei num grupo minimamente gigante de crianças azuis.
Devia de ser mais uma daquelas colónias de férias para entreter a miudagem.
Dois deles, de ar amável e enfadonho, olharam para mim e apontaram para onde estava a escrever.
São impressionantes as conclusões imprescindíveis à vida que aspiramos em micro segundos.
Ele vivia numa casa longe do mundo, ele não se sentia só. Não estava.
Mesmo eu, nesta minha tentativa falhada de me afastar de todos, de me deparar apenas comigo, mesmo eu neste meu pequeno egoísmo, escrevo neste momento sobre outros.
Estou aqui por causa dos outros. Por causa das coisas.
Escrevo, vou surfar, ando, sorrio e choro porque existem sempre outros. Existe sempre alguém. Ninguém é intocável, por mais que se faça.
Até neste autocarro, poderia dirigir-me a qualquer um. Todos têm uma história, todos têm alguma coisa a dizer se me apetecer falar. Todos me podem fazer rir.
Alguém, cá dentro ou lá fora, talvez me dê um ombro se me apetecer chorar.
Mesmo quando seguro na prancha e vou para dentro de água a considerar que estou, finalmente, sozinha… até ai, interiormente, faço um ‘zoom inverso’ como se estivesse a olhar do céu para mim mesma.
Vejo-me sentada no meio da água, segue-se a areia, as dunas, as estradas, as casas das pessoas, mais ruas, mais estradas, mais praias, mais e mais pessoas, que comem, dormem, saltam, riem, cantam… surfam…
Estou realmente longe… mas não estou sozinha.
Quando o vento me assopra a cara consigo ouvir as crianças a cantarem na Índia, um mendigo em Israel, o violino na Argentina, um grupo de amigos a tocar viola em Itália, os camelos e as feiras em Marrocos, as mulheres a esfregarem a roupa em África, as luzes do Japão, o wax a raspar numa prancha na Austrália (e acho que deve ser o Bruno, um amigo meu que foi para lá viver com a namorada alemã).
Poderia ouvir mais se assim quisesse. No entanto, estou ali, a fazer o mesmo que tento fazer agora. Dessa vez não alcancei, desta não alcanço e na próxima não alcançarei.
Não consigo acreditar que eu seja insensata por pensar desta forma, quando são os outros que não contemplam em seu redor e apenas dão valor às suas pessoas, aos que pensam como eles, inaptos de seguir as pegadas de um estranho.
O que é que importa a cor da pele de alguém?
Somos todos iguais. Estamos todos ligados.
Juro-vos que estou a respirar e estou acordada, garanto-vos isso.
Bem sei que para muitos, estas palavras não passam de um sonho.
Mas existe quem as torne reais, em todos os cantos do mundo existem esses… que não estão sozinhos.
Muitas vezes concordamos com o que temos de concordar e pensamos que temos sempre de ter mais do que precisamos.
Só que, mais uma vez e como sempre… o ritmo acelera. Uma musica.
A bateria começa a bater mais rápido, marca o ritmo, e por sermos as pessoas do mundo… não podemos parar para pensar nesses pormenores, não é assim?
Não serão estes os mais importantes?
Não são estes que dão valor e significado à vida?
Não serão estas pequenas realidades que fazem com que esta passagem pelo Planeta Azul seja mais do que apenas isso?
Bom… agora não tenho tempo. Mas devia. Devíamos! Porque o tempo é agora.
Ainda no autocarro, escrevi numa folha em grande: “Bom dia!”. Mostrei-lhes pela janela e tentei soletrar o que tinha escrito.
Entenderam-me. Reacção em cadeia!
Em menos de um minuto a viatura voltou acelerar, as árvores a andar para trás, os traços brancos do chão a serem engolidos.
Quando olhei, vi todo aquele tropel a acenar-me. Pelos movimentos dos lábios, compreendi que também estavam a dizer “Bom dia!”, mas num tom mais continuado.
Neste dia não estava à espera de receber os ‘bons dias’ de ninguém.
Hoje quis, e quero, agradecer a todos pelo simples facto de existirem. A todos!
“Vivemos tão ligados uns aos outros, neste arco, neste ciclo sem fim.”
Obrigado.