domingo, 6 de junho de 2010

Caro Duke Kahanamoku…

Não sei bem por onde começar, nem sei se o devia fazer… é um desafio muito grande para alguém tão pequeno como eu.
Tenho tanto a agradecer-lhe que me limito a agradecer o simples facto de ter existido.
Não! Nem os meus pequenos monólogos, com os sentidos mais apurados ou com os adjectivos mais poderosos que encontrar… nunca vou conseguir escrever nada que se compare ao que tanto quero engrandecer.
Poderia agradecer à Natureza pelas ondas, pelo vento…
Por me deixar cresces com olhos de ver, com pernas para me meter em pé, com mãos e braços…
Por me deixar sentir todos os pormenores, desde a remada até à mais complicada manobra que consigo fazer…
Por tudo isto e muito mais, podia agradecer-lhe. Mas se agradecer e engrandecer tudo isto, o que faço eu a quem apresentou o surf ao mundo? A quem apresentou a melhor forma de desfrutar desses presentes dados pela Natureza? Quem soube dar, da melhor forma, uso aos braços, às pernas e aos olhos?
Mas, para agravar a situação, alguém não se limitou a fazer apenas isso, e criou algo que hoje é a vida de muitos comuns como eu.
Mostrou, de uma forma tão clara que até os mais cegos, não conseguem não ver… um modo de vida, uma arte, um cheiro, uma cor, uma cultura.
A esta hora, em qualquer parte do mundo, estaram mais uns tolos a tentar (de uma maneira ou outra) escrever-lhe a agradecer, tal como eu.
Tolos! Mas tentem, tentem…!
Tu (e agora dou-me ao luxo de te tratar por ‘tu’, para criar aqui uma certa empatia) criaste um outro mundo com uma nova filosofia, deste o que homens novos precisavam para construir uma nova humanidade.
A maior parte dos habitantes deste pequeno (grande) planeta azul, passam as suas vidas afastados da água, das ondas, do oceano.
Nós, aprendemos uma nova forma de nos movimentarmos e por mais estranho que pareça, preferimos o mar à terra e a prancha ao carro, o cheiro da maresia ao perfume chanel, as madrugadas na praia às noitadas na LUX, a espera por uma onda à espera na fila de cinema (mesmo que o momento pelo qual estamos a esperar tenha uma duração inferior, e secalhar, até é semelhante ao ultimo).
Para alem disso, esperamos por algo que não temos a garantia que venha, aquela onda perfeita pode não aparecer.
No entanto, quando saímos da agua, estamos apaixonados por ela, mesmo que nunca a tenhamos visto, sonhamos e deliramos com ela, todos os dias.
Este movimento é um bocado estranho, admito.
Eu, por exemplo, pareço uma ‘maluquinha’ que arranja mil e uma escapadinhas para agarrar no seu melhor amigo (o fato isotérmico), ligar ao seu vulto de estimação (neste caso, é o Diogo) e meter-se dentro de agua.
Quando dou por mim, lá estou eu a encher o meu quarto com conchas e fotografias de surf, secalhar, para me tentar aproximar mais do meu habitat natural.
Por isso, o surf é mais que um desporto.
É uma forma de estar, pensar e agir.
O mar, sem nos apercebermos bem disso, dá-nos lições que fazemos transparecer no dia-a-dia. Tenho tanto respeito a ele, como aos meus pais e avós (mal comparadamente), porque também ele me ‘criou’ e educou.
Sem ele, de certo que não seria como sou hoje.
O surf transporta-me para o meu ‘estado zen’, faz-me sentir equilibrada.
Por pior que seja a situação, por favor, deixem-me ir surfar! Depois de surfar, estarei pronta para vos dar as respostas e encarar os problemas ‘tete a tete’.
No momento em que o meu corpo se ergue bem assente na prancha, quando nada me importa a não ser aquele segundo, o ‘agora’, o ‘já’… é nesse momento que encontro as respostas para o depois, para o que vai ser…

Bem, acho mesmo que os surfistas deviam adoptar uma bandeira e assumirem-se como ‘marginais’.

Hasta. Obrigada.

3 comentários:

  1. Bonito!

    Um balde na cabeça para ti Carol

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  2. Um balde na cabeça para ti e para o David. A mim é que não! :D
    Obrigada Inês

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  3. mais que bonito, parabens pela intensidade e criatividade! È a minha CAROL!!!

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