terça-feira, 15 de junho de 2010

Podia ter agradecido esta hora.

Há dias e dias… horas e horas.
Todos os dias economizo uma hora para estar comigo mesma, todos os dias penso e faço uma reflexão sobre as minhas surfadas, sobre algumas sensações que tive durante as mesmas, sobre conversas que foram consumadas pelo caminho…
Sem exagero, neste instante, diria que é a hora em que me sinto mais realizada que em qualquer outra hora, outro tempo, outro instante.
Não é quando ficam felizes por me ver, não é quando ultrapasso um recorde pessoal, não é quando alguém deixa sair um elogio inocente por entre os lábios que no momento me dá uma ideia parola de “sinto-me realizada”. Na verdade, tudo isso é mentira.
É naquela hora já cansada do dia, quando tudo está parado (ou o mais parado possível), quando prefiro o silêncio ou apenas ouvir um pouco da minha música, quando me sento como se não houvesse mais nada para fazer, quando estou sozinha, realmente sozinha comigo.
Lembro, relembro e volto a lembrar algumas faces essênciais, rostos amigos, caras. São poucos. Simples.
Consigo ver todos os traços que os constituem e ouço as vozes citando frases banais, frases rotineiras, frases que fazem parte de mim.
Consigo associar esses rostos às minhas decisões dentro de água, decisões essas que definem a minha maneira de surfar, maneira essa que decide as ondas que apanho, ondas que por sua vez, são únicas. Não se repetem. Assim como tudo na vida.
Por isso, acho que nem sempre dou o devido valor a essas personalidades tão banais e repetidas do meu dia.
No fundo, são eles que me definem, que definem o meu surf… quando eu estou dentro de água, ou seja, quando me encontro no molde mais puro de mim, sou um pouco desse universo, dessas frases, desses abraços, desses sorrisos, dessas facetas… que grande responsabilidade que vocês (sabem bem quem são), carregam todos os dias.
É em vocês que está tudo: o recorde pessoal, as ondas conseguidas, os aplausos, as minhas vitórias…
O mérito só existe porque o que fiz, o que surfei, o que faço… é obra dos protagonistas desses rostos. Não o faria sozinha. Ninguém faz.
Não é em mim, não é nela nem nele que eu vou procurar a força que tenho quando corro em direcção ao mar, quando remo, quando me levanto… é em vocês, seus rostos vadios, rostos banais, vultos essenciais.
Por isso, se um dia se sentirem cansados… desculpem. Fui eu que vos roubei outra vez.
Peço desculpa pela vida que levo, mas eu amo esta arte de estar, por uma razão: paixão.

2 comentários:

  1. e se o amor não existisse nas nossas vidas tudo o que faríamos era completamente insignificante. falo de amor, em todas as maneiras, como esse teu amor pelo surf, que na verdade acaba por ser a tua vida, esse teu amor pelos teus amigos, que tal como disseste, são quem te completa, todos os dias e em tudo o que fazes.

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