quarta-feira, 25 de maio de 2011

Skenario.


"A natureza é sábia e justa. O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as folhas tenham o seu momento de ver o sol."
(Humberto de Campos)

Em várias ocorrências utilizamos a expressão “por vezes temos de dar um passo atrás para dar dois em frente”, ou algo semelhante.
Claro que,tal como em todos os ditados, o 'geral' irá posteriomente ser contextualizado no 'particular'.
E o que quero aqui deixar registado é que, pelo menos neste “skenario”, em algumas situações, o melhor seria mesmo não dar nenhum passo.
Tenho a sensação que um excessivo número de indivíduos não se sabem alegrar com o que têm, ou tentando explicar melhor, existe uma ganância tão desmesurada por mais que nunca chegam a usufruir do presente e a perceber que, por vezes, mais do que o que presenciam… é menos, é ser mais estéril.
Nenhuma acção é inútil, não deixemos de fazer apenas porque é pequena.
Vou evocar imediatamente um slogan da Natura que acho indispensável: “Think globally, act locally(Pensar globalmente, actuar localmente).
Existe a estranha e lerda cobiça por ver maior, por “anexar” e aumentar.
Nós aprendemos um pacote de valores desde crianças, mas é de reparar os bastantes que não aprendem a calma e o saber esperar. Sei que muitos ao lerem estas letras tão inocentes quanto quem as escreve, me acusariam neste momento de que só digo o que digo porque nunca nada me levou a dizer o contrário e, provavelmente, começariam a enumerar condições onde seria difícil de usar a calma.
Eu não sei tudo, não experimentei tudo, mas sei que em qualquer situação acho sempre preferível usar a calma como primeira opção.
Neste caso que vos quero falar, antes de mais e sem demoras, aplica-se à letra, ao milímetro e ao segundo.
Já experimentaram correr pelas dunas, sentar, inspirar ar puro, sentir o sol a afagar a cara, encaixar as mãos na areia branda e estar em harmonia com a Natureza?
Tentem acompanhar o meu ritmo agora que a música toca alto e viva.
Não gostavam que, a modo de exemplo, os vossos amigos, primos e filhos, em certas alturas, pudessem daqui a um tempo ver as mesmas paisagens que vocês?
Não gostariam que os vossos filhos pudessem ir surfar um fim-de-semana à Costa Vicentina (o que me levou a escrever esta crónica) e estar em contacto com a Natureza esculpida tal como é?
Uma longa costa, limpa, viva, pura, sem "caixotes" , sem “Homem”.
“O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as folhas tenham o seu momento de ver o sol”… não deveríamos também nós, que nos dizemos avisados e lutamos por ser justos, preocupar-nos em que todos, daqui a uns anos, também possam “ver o sol” tal como o vemos, nas condições em que vemos?
Não deveríamos lutar por manter estes pequenos paraísos na terra?
Por vezes, até o maior artista das letras e das frases não consegue descrever momentos específicos, paisagens de tal forma simples que não temos ao alcance dizer mais do que isto mesmo.
O crescimento sustentável não se prende por travar a construção, mas sim garantir a satisfação dos que agora cá estão não esquecendo os que ai estão para vir.
Assim como nós gostamos de mostrar o melhor da nossa casa aos convidados, dar o nosso melhor aos que mais gostamos, assim como gostamos que sejam justos connosco, que guardem para nós e que esperem por nós.
A vida não se vai resumir ao nosso vizinho, à nossa casa, aos com que nos cruzamos agora na rua. Existe vida para além desta, é um facto, mesmo que não seja a nossa.
A política está em tudo. Eu que não gosto de politica (no entanto, procuro informar-me e dou o meu voto, como direito que nos foi alcançado) descobri que, afinal, até gosto.
Não gosto é da 'política dos políticos' e sim da 'política das pessoas'.
Gosto de ver as coisas acontecerem.
Gosto de politica quando é, realmente, um veiculo/meio para melhorar alguma coisa e não um esquema de conveniência.
Este fim-de-semana fui com os SOS Salvem O Surf, uma organização composta por voluntários que pretende salvar ondas e orlas costeiras… E, (eureka!), que descobri a grande divergência.
Como somos todos voluntários, estamos todos para o mesmo, não existem segundos interesses, estamos a dar de nós mesmos em prol do igual objectivo.
E é isso que falta na política tal como a conhecemos: estarem todos com o mesmo propósito, como se diz, “sem corantes nem conservantes”. Uma finalidade genuína.
Assim, com menos ou mais, as coisas são o que são... acontecem e fazem acontecer.
Imploro para que as pessoas tenham esta consciência da união, do pequeno passo que se vai engrandecendo durante a andança.
Faltam-nos experiências, culturas e horizontes!
Falta-nos gritar, fazer-nos ouvir!
Falta-nos ver e sermos vistos.
Falta-nos, à sociedade em geral, 'Ser'.
Falta-nos ser como a Natureza, sábios e justos, para podermos dar aos outros o que nos foi dado.
Os interesses não são incompatíveis com os valores.
O progresso não é incompatível com a preservação.
Quero que daqui a uns anos todo o ser humano, que tenha em sua vontade a mesma que a minha, a possa substanciar.
Quero que esse alguém possa pisar a mesma encosta que eu, sem fumo no ar, em sintonia com os animais donos das terras, olhar o horizonte sem que nenhum fragor lhe corte a paz de espírito, possa abrir os braços, fechar os olhos, sentir o que quer sentir, onde quer sentir.
E, principalmente, que possa lá voltar podendo ter as condições para sentir exactamente o mesmo.