terça-feira, 29 de junho de 2010

Inoportuna definição: s-u-r-f.

Papel. Caneta. Areia.
- Preciso de ar. Preciso do mar.
grita o meu consciente desnutrido. Sempre pensei que o surf fosse um desporto sem mais nem ais. Um desporto individual. Um "desporto" de muitas aspas, assim como tudo na sua definição "não oficial". Que mania esta que o homem tem de querer tudo 'preto no branco', de querer rótulos em tudo. Que necessidade esta de saber tudo, até ao mais minúsculo e insignificante esporo!
Sabe. Pronto, já sabe. Nada mais há para alem disto. Nada mais há para descobrir. Já sabe. É um herói, sem duvida!
- NÃO.
e os que gritam Não? Essa minoria que julga estar sozinha. Essa minoria que nada sabe.
Nada sabe... julgam eles! Julgadores de si mesmos, do pobre e do rico, de tudo e de nada.
"Nada sabe"... dizem eles! Os mesmos que dizem que sim e que não, o que está certo e errado, que dizem bem e mal. Que dizem... sabem lá eles o quê! Apenas dizem... falam na esperança de encontrar mais um rotulo, uma definição...
Utilizando um adjectivo que 'os mais' deram 'aos menos': Viva esses burros!
E que vivam eles! Quem me dera encontrar mais um ou outro por ai.
Definição de surf segundo os pertinentes: desporto náutico que consiste em acompanhar o rebentar das ondas mantendo-se em equilíbrio sobre uma prancha.
Quem ouvir isto vai pensar que, no máximo, o surf até deve ter o seu ar de graça.
Pensará, de certo, que o surf apenas consegue oferecer o que é.
Estão enganados! - gritam os inconvenientes, os tais burros.
Coitados! - pensam 'os mais'.
O surf é muito mais do que um desporto náutico e oferece muito mais do que aquilo que é.
O quê? Oh meus caros! É aqui que entram todas as aspas e reticências.
O que o surf oferece, varia de pessoa para pessoa, seja surfista ou não.
O que o surf é, está tão fora do alcance de todos crânios do planeta, de todas as definições e rótulos... nem sequer conseguirão dizer, com uma pequena margem de erro, "o surf é parecido com...". Não é. Nem será.
Inteligências, sentem-se frustrados porque não conseguem ter na mão, não conseguem explicar uma palavra que não tem mais de quatro letrinhas?
Ora bem, é ai que os burros ficam a ganhar! Os que, no fundo, sabem mais. Aproveitam!
Felizes por não saberem o significado dessa palavra e poderem sonhar com ela todos os dias sem os tais 'mais e ais'. Sem sequer saberem com o que sonham.
Palmas para eles!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mantem-te original! - Sumol

"Mantêm-te fiel aos teus valores e ri-te desprezadamente dos 'pobres de espírito' que por estupidez e ignorância não 'vêem' para lá do seu umbigo." - Luis Salgueiro

terça-feira, 15 de junho de 2010

Podia ter agradecido esta hora.

Há dias e dias… horas e horas.
Todos os dias economizo uma hora para estar comigo mesma, todos os dias penso e faço uma reflexão sobre as minhas surfadas, sobre algumas sensações que tive durante as mesmas, sobre conversas que foram consumadas pelo caminho…
Sem exagero, neste instante, diria que é a hora em que me sinto mais realizada que em qualquer outra hora, outro tempo, outro instante.
Não é quando ficam felizes por me ver, não é quando ultrapasso um recorde pessoal, não é quando alguém deixa sair um elogio inocente por entre os lábios que no momento me dá uma ideia parola de “sinto-me realizada”. Na verdade, tudo isso é mentira.
É naquela hora já cansada do dia, quando tudo está parado (ou o mais parado possível), quando prefiro o silêncio ou apenas ouvir um pouco da minha música, quando me sento como se não houvesse mais nada para fazer, quando estou sozinha, realmente sozinha comigo.
Lembro, relembro e volto a lembrar algumas faces essênciais, rostos amigos, caras. São poucos. Simples.
Consigo ver todos os traços que os constituem e ouço as vozes citando frases banais, frases rotineiras, frases que fazem parte de mim.
Consigo associar esses rostos às minhas decisões dentro de água, decisões essas que definem a minha maneira de surfar, maneira essa que decide as ondas que apanho, ondas que por sua vez, são únicas. Não se repetem. Assim como tudo na vida.
Por isso, acho que nem sempre dou o devido valor a essas personalidades tão banais e repetidas do meu dia.
No fundo, são eles que me definem, que definem o meu surf… quando eu estou dentro de água, ou seja, quando me encontro no molde mais puro de mim, sou um pouco desse universo, dessas frases, desses abraços, desses sorrisos, dessas facetas… que grande responsabilidade que vocês (sabem bem quem são), carregam todos os dias.
É em vocês que está tudo: o recorde pessoal, as ondas conseguidas, os aplausos, as minhas vitórias…
O mérito só existe porque o que fiz, o que surfei, o que faço… é obra dos protagonistas desses rostos. Não o faria sozinha. Ninguém faz.
Não é em mim, não é nela nem nele que eu vou procurar a força que tenho quando corro em direcção ao mar, quando remo, quando me levanto… é em vocês, seus rostos vadios, rostos banais, vultos essenciais.
Por isso, se um dia se sentirem cansados… desculpem. Fui eu que vos roubei outra vez.
Peço desculpa pela vida que levo, mas eu amo esta arte de estar, por uma razão: paixão.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Uma questão de números.

A Natureza devolve ao homem, com maior intensidade, tudo o que mesmo lhe faz ou por ela faz.

13h24, estação rodoviária.

Enquanto esperava pelo autocarro para Santa Cruz onde iria decorrer a surfada do dia, um homem robusto e de ar adoentado que estava a vender tapetes para ganhar o pão do seu dia veio ao meu encontro e dirigiu-me a palavra. No inicio virei a cara e pensei que estivesse bêbado (essa má tendência de julgar pela capa quem não se conhece foi mais forte).
Na verdade, estava bem mais consciente, bem mais ciente e lúcido que eu. Tinha a voz rouca. Devia ter os seus quarenta e poucos anos apesar do seu ar decrépito e desmazelado.
Com o desenrolar da conversa, tornou-se impossível não prestar atenção ao que o pobre dizia.
Do que me lembro, perguntou-me se tinha reparado na rapariga do outro lado da estação. Respondi que não. O sujeito começou a citar números e números sozinho, a fazer contas para o ar.
Até que me dirigiu outra vez a palavra e disse: “Em números demasiado bem-parecidos, em média, em todo o mundo deitam-se para o chão 1000 pastilhas por dia. Agora, multiplica essas pastilhas por 8 dias e já lá vão 8000 pastilhas. Se for durante um único mês: 30000 pastilhas. E isto durante um ano inteiro será 360000 pastilhas.
Como é óbvio foram números muito módicos comparando à escala real. Visto que uma pastilha demora 5 anos a decompor-se, daqui a uns tempos não damos um passo sem encontrar uma. Pessoalmente, não acho que não seja muito complicado de colocar no lixo.
Ou de facto é, menina?”.
Não lhe cheguei a responder, entrei para o meu autocarro.
Durante a fatigante viagem, já que a sociedade actual gosta tanto de números, tentei somar às pastilhas, todas as fábricas, motas, carros, fogueiras e outras realidades que fazem o seu estrago todos os dias…
Para agravar, ainda acontecem acidentes como a rotura do oleoduto da BP que vazou na costa da Louisiana e destroi a vida marinha no Golfo do México à mais de 46 dias.
O poço acidentado contava com cerca de mil barris de petróleo por dia, de um total de 19 mil.





. Deste modo, um dia surfar será assim.





quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entrevista com Ana Rita Oliveira.

Ana Rita Oliveira é finalista de antropologia no ISCSP - Lisboa e vai fazer o seu projecto de final de curso no ambito dos estilos de vida e surf.

1. Identidades
-
Como é que se define? Como responderia à questão: “Quem sou eu?”
Bem, agora começam as perguntas difíceis. Preferia que fosse um amigo meu a definir-me do que eu a mim mesma, isso é complicado. Eu sou bastante activa, não gosto de estar parada. E dou o meu melhor nas coisas que gosto, como o surf. Sou muito amigos dos meus amigos e por vezes (muitas vezes) meto-os à frente de mim.
Resumidamente, sou a Carol. E o resto, não é com uma hora de conversa que se descobre.
É preciso muitos anos de convivência ou então uma extrema confiança da minha parte para me alguém possa dizer que me conhece bem. A maior parte das pessoas só vêm uma rapariga muito extrovertida e divertida.

- O que significa para si o surf?
E cada vez as perguntas são mais difíceis… o surf? O surf para mim significa tudo. E agora posso estar a mostrar um pouco de egoísmo ou falta de consideração para com os meus amigos (por exemplo). Mas a verdade é que tudo o que faço se baseia um bocadinho no surf, o que digo, o que penso… não seria a mesma se não existisse surf. Só o facto do surf existir, mesmo quando não o praticava, tinha influência em mim.
Mas o surf para diferentes pessoas significa diferentes coisas. Para muitos pode ser só uma forma de “descarregar”, para outros pode ser só algo que usam para subirem na sociedade (toscos, porque isso é uma ilusão.), para mim… é uma forma de estar.
Se passava a vida toda dentro de agua? Oh, e se passava! É claro. Uma coisa que faz confusão a algumas pessoas, é o facto de quando tudo está mau, nas fases de maiores problemas, eu só pensar em ir surfar. Pois, arrisco-me a dizer: tirem-me tudo, mas deixem-me ir surfar que eu depois resolvo. Desde que tenha aquele momento para mim, as coisas ganham um aspecto melhor. O preto não fica tão preto e o mau passa a menos bom.

- O que é ser surfista?
Ser surfista é fazer surf. Desde os que estão aprender nas espumas e tentam mil vezes aos que fazem aéreos 360 ou surfam ondas de seis metros… surfista é todo aquele que se atreve a surfar, que vai surfar, mas, por gosto e não para se gabar. Aos que entram dentro de agua com pranchas e fogem das ondas damos frequentemente a alcunha de “morangos”. Surfista é o que faz surf (ou tenta) todas as estações do ano e não o que espera pelo Verão para agarrar na prancha e passear.

- Considera-se surfista? Porquê?
Considero. Porque tal como disse anteriormente: surfista é todo o que vai surfar por gosto, independentemente do nível de surf. E podes crer que tenho todo o gosto em ir surfar.

- O surf tem alguma influência no seu dia-a-dia e na sua forma de pensar/agir? Como?
Tem, tem muita influência. Penso que todos os surfistas têm uma filosofia comum: temos de saber surfar bem as ondas pequenas para depois aguentarmos as ondas grandes. E isso, pode aplicar-se na vida, no dia a dia de cada um. Para alem de que, ao contrario do que muitas pessoas pensam, no surf há muita entreajuda. Cada vez mais as pessoas têm uma maior noção de que é preciso ter cuidado na água para que corra tudo bem. Essa forma de estar no mar, reflecte-se na minha vida. Claro, salvo algumas excepções, porque aparece sempre um ou outro abronho que decide desrespeitar as ditas “leis universais do surf”.
Cada um adapta o surf a si. Mas a imagem geral de amante da natureza, protector dos oceanos, calmo, paciente, aplica-se à maioria dos surfistas como eu.

- Porquê o surf (o que o distingue das outras práticas desportivas)? Como é que tudo começou?
Porquê o surf? Esta pergunta seria mais fácil de responder a alguém que faça surf. A única resposta que vejo é: porque sim, é claro!
Não conheço ninguém que tenha começado a fazer surf e tenha deixado. O bichinho fica sempre lá. O surf porque me liberta. O surf porque me faz sentir viva. O surf porque amo o mar. O surf porque é o surf, e nenhum outro desporto consegue substituir isso, ou igualar alguma das sensações que tenho a surfar. O surf porque vive em mim, e me deixa viver.

2. Percepções
- Qual a imagem que pensa que as pessoas têm do surfista? Porquê?
Penso que existem diferentes imagens sobre o surfista. Há quem pense que são pessoas muito sozinhas e fechadas, com círculos de amigos pequenos e restritos. Há quem pense totalmente o contrário, ou seja, que o surfista é uma pessoa muito popular. Outros, poderão pensar que o surfista é alguém convencido que se acha superior e tal como anteriormente, há os apoiantes da opinião totalmente inversa: de que o surfista é modesto e acessível. Isto, porque há vários tipos de surfista. Nem numa religião “a sério” as pessoas são todas iguais, como é que no surf poderiam ser? Não quero com isto dizer que o surf é uma religião. O que nos une não é a maneira de ser, não é um único estilo de roupa ou musica, é apenas um gosto que todos partilhamos e usufruímos, cada um à sua maneira. Até porque fora da maneira de surfar moldada que é ensinada nas escolas, cada um depois tem o seu estilo dentro de agua.

- E os seus vizinhos, amigos e conhecidos, que imagem pensa que têm de si e do surf?
Bom, não tenho uma relação muito próxima com os meus vizinhos. Apenas um “olá, boa tarde!”. Ahah Os conhecidos não me importa muito o que pensam, por isso nunca me dei ao trabalho de perguntar ou tentar entender o que pensam sobre mim e sobre o surf. Os amigos é diferente: há os que se entusiasmam muito pelo facto de o fazer e há os que têm mesmo de mandar esta ou aquela piada sobre o assunto.
Tenho aqueles amigos que me estão sempre a perguntar como é que foi no sábado, ou como é que estava o mar no domingo… e há os que dizem (como o Santos) “então, surfaste lá nas waves?”, mas no fundo, todos se resumem ao mesmo: estão interessados em saber como correu, mais a brincar ou mais a sério, lá vão perguntando, pedindo fotos, e auto-convidando-se para virem comigo à praia. Acho que lhes dá sempre aquela curiosidade em saber como é que sou dentro de agua com um fato isotérmico vestido. Mas mal eles sabem que sou totalmente igual… (secalhar, um bocadinho mais ansiosa do que o costume.)

- Que imagem tem dos miúdos que gostam de vestir como surfistas mas que, na verdade, não são surfistas?
O surfista não tem um traje próprio. Há surfistas de fato e gravata. Mas os que se vestem com roupas da Rip Curl só porque gostam e até dão uma imagem de serem surfistas, não tenho nada a dizer, estão apenas a vestir-se como gostam. Agora, os que se vestem de propósito para parecer que fazem e no fundo, quando se fala de surf não sabem o que dizer, faz-me confusão, Hey, miúdos, é favor experimentarem! Acreditem que vos vai fazer sentir muito melhor o ser que o parecer.

- Como se sente em relação à imagem estereotipada do surfista – jovem que não faz mais nada na vida a não ser apanhar ondas e sol?
Sinto-me fora. Alias, sentem-se todos. É totalmente um mito, ou pelo menos, em parte. É verdade que passamos o dia todo a pensar em quando é que vamos para o mar outra vez e a pensar no surf, mas isso não quer dizer que não façamos mais nada para alem disso.
É verdade que todos os feriados, fins de semana e tempos livres tentamos ocupar a surfar, mas há tempo para tudo, ou quase tudo! Não fazemos só isso. Se assim fosse, deixávamos de ser humanos. Temos relação interpessoais, temos amigos e família como toda a gente.

3. Estilo de vida
- Considera o surf um modo de vida/uma forma de estar? Em que sentido?
Penso que já respondi a esta questão, mas questiono-me se fui eu com todo este meu paleio ou se foste tu que repetiste.


- Tem cuidados com a sua alimentação? (no caso de responder que sim) Sempre teve ou deriva da prática do surf?
Sim, tenho, alguns. Eu sempre tive, não derivou do surf, mas sim do facto de fazer desporto.

- Como é que concilia o surf com o trabalho/escola? E com os amigos? E com a família?
Com a escola, por vezes (como a ansiedade para ir para a agua é muita) torna-se difícil, porque gasto os fins de semana que supostamente eram de estudo a surfar e quando chego a casa, já estou cansada. Por isso, estudo muitas vezes de manhã. O surf até serve um pouco como motivação para ter resultados, pelos menos, razoáveis. Penso que se não os tiver, não há surf. E isso eu não quero. Com os amigos é fácil, basta ter os amigos certos e eu tenho-os.

4. Sociabilidade
- Quem são os seus amigos?
Bem, quando penso em amigos saltam-me Martas, Diogos, Anas Palma, Sás e outros nomes à baila. Mesmo que este “outros nomes” dê ideia de que são muitos, não são. Apesar de ser muito sociável e ter muitos conhecidos, amigos tenho poucos. Faço questão de os tratar bem e escolher a dedo. Questiono-me se sou eu que os escolho ou eles que, de certa forma, me escolhem a mim e me dão provas de que posso confiar neles. Eu não confio em muitas pessoas. Confiar não é rir e estar muito “à vontade”, para eu confiar é preciso mais.
Mas garanto-te que tenho os melhores amigos que alguém pode ter. Faço tudo por eles e eles retribuem todos os dias.

- Com que tipo de pessoas se relaciona? Porquê?
Dou-me com todo o tipo de pessoas e acho isso óptimo. Eu sou daquelas pessoas que pertence a todos os grupos e a nenhum ao mesmo tempo. Eu não escolho partidos.
Não sou de não me dar com alguém só porque dizem que essa pessoa fez isto ou aquilo, eu gosto de dar a toda a gente a mesma oportunidade de mostrar o que vale, de mostrar quem é. E quem sabe, porque não uma segunda oportunidade? E terceira, se assim eu achar que merece. Gosto de conhecer pessoas. Acho que, por exemplo, todos os dias conheço um bocadinho mais da Marta e ela é minha amiga.
Nem sou de me deixar de dar com alguém porque outra pessoa que se acha minha amiga está chateado (ou chateada) com essa pessoa. Sou individual, sou de todos.

- Já participou em algum campeonato de surf? O que significou para si?
Eu nunca participei num campeonato mais a sério a nível de surf, mas também admito que não é algo que me chame muito à atenção. Prefiro fazer freesurf. O que não quer dizer que não me preocupe em melhorar cada vez mais e aumentar o meu nível de surf, apenas não gosto de competir e de ver ondas surfadas a serem avaliadas. Mesmo sabendo que é a competição que ajuda a desenvolver o desporto.

- Descreva o que sente quando está no mar em cima de uma prancha?
Sinto-me Carolina Pereira. Sinto-me livre e com o poder de mudar o mundo.

5. Música
- Que estilo de musica prefere? Porquê?
Prefiro Reggae e Ska. Mas sei ouvir um bocadinho de tudo. São as musicas que me fazem sentir melhor.

- O que é que esse estilo de musica lhe transmite?
Transmite-me alegria, tranquilidade, ou quando preciso: alguma pica para viver e vontade de me meter ai aos pulos no meio da rua.

- O surf tem alguma coisa relacionada com este estilo de musica? Porquê?
Penso que não. Há quem goste de ir a ouvir um grande rock para a praia para lhe dar adrenalina para surfar, ou quem prefira ir a ouvir musica mais slow para estar calmo e relaxado para a surfada. Há sempre aquele estilo de musica a que chamam “musica surf”, mas quem ouve esse estilo e acha que é mais surfista por isso… são os morangos.


6. Vestuário
-
Como se veste no seu dia a dia? Porquê?
Visto-me com o meu próprio estilo, mas é sempre com roupas práticas. Não sou muito de estar a vestir isto ou aquilo apenas porque fica bem.

- Como se sente quando é necessário usar um traje mais formal?
Um pouco desconfortável. Não gosto muito.

- Qual a influencia do surf na sua forma de se vestir?
Eu já me vestia assim antes de fazer surf, a única diferença é que quando ia à praia não vestia o fato isotérmico e agora visto.

- O que pensa dos miúdos que gostam de vestir Billabong, Ericeira, O`Neal, etc, como se fossem surfistas mas que na verdade não são?
Penso que também já respondi a esta pergunta.

- Para si, a que se deve o sucesso dessas marcas junto dos mais novos? O que é que essas marcas transmitem/Que sonhos vendem?
Oh, está muito relacionado não com o facto de ser roupa de surfistas mas sim com o marketing que a marcas fazem. Se com a publicidade parecer que é “mais fixe” usar aquela roupa, os miúdos vão querer usar. Se não, não vão. Independentemente se ser de surfistas ou não.



domingo, 6 de junho de 2010

Porque te levantas? Pelo Espírito.

Porque te levantas?
Eu? Pelo Espírito.

Tuff. Tuff. Pedra. Tuff. Concha. Tuff. Pau.

Que temperatura está?
Estão menos três graus.
Então, porque te levantas?
Eu? Pelo Espírito.

Tuff. Tuff. Pau. Tuff. Pedra. Tuff. Concha.

São seis horas da manhã.

Frio. Sinto frio. Mas não por inteiro.
Tenho o coração quente.
Sinto-o, o frio, nas pestanas, nos pés e nas mãos.
Sinto-o, o quente, nos braços, nas pernas e no peito.
Para ser sincera, agora, perante esta tão bonita paisagem, não sinto nada…
Não é que não sinta o frio e o quente, o vento da maresia e o frio da madrugada…
Não é que não sinta a terra a dormir, porque, a esta hora, consigo ouvir os outros a respirar em pleno sono: Inspira, expira, inspira, expira. Sonha.
Gosto de estar aqui, de pés na areia, a tentar adivinhar se alguma das pessoas que dorme para lá dos estores fechados, leva a mesma vida que eu… saber se são parecidos comigo…

Tenho fome. Neste momento, nenhum deles está com fome.
Na verdade, nenhum deles tem coisa alguma…
Não têm porque dormem.
Eu, estou acordada.
Estou acordada e estou aqui.
Não vejo mais ninguém para alem de mim, que de facto, também não vejo.
Mas vejo a minha prancha, espetada na areia.
Não está mais ninguém.
Por isso, não levam a vida que eu levo, nem são parecidos comigo.
Afinal o que não sentes tu?
Não sinto emoções. Acho que morri…
Quando estou aqui, em frente ao mar, que tanto respeito… sinto-me pequena. Parece que não existo.
Mas é neste momento, que me encontro a mim mesma.
Não sei o que me deu! Estou a correr… estou a correr contra o mar como se fosse meu inimigo e eu o estivesse a atacar.
Com a prancha debaixo do braço e passos largos… os pés começam sentir a agua antes de tudo o resto…
Mergulho agarrada à prancha por baixo da onda e… AFINAL, ESTOU VIVA!
Nunca estive tão viva antes.
É neste momento em que um dos seres mais pequenos do planeta, se envolve num momento grandioso e poderoso, é no momento em que não me sinto apenas eu, mas sim, mar também.
É quando a onda vem com força para me meter em pé, quando dançamos juntas, que sei porque me levantei tão cedo.
Porque gosto de estar aqui, porque é que não me importa o frio, o vento ou a chuva, o porquê desta “obsessão”, o porquê deste vício…

… é PELO ESPIRITO!

Caro Duke Kahanamoku…

Não sei bem por onde começar, nem sei se o devia fazer… é um desafio muito grande para alguém tão pequeno como eu.
Tenho tanto a agradecer-lhe que me limito a agradecer o simples facto de ter existido.
Não! Nem os meus pequenos monólogos, com os sentidos mais apurados ou com os adjectivos mais poderosos que encontrar… nunca vou conseguir escrever nada que se compare ao que tanto quero engrandecer.
Poderia agradecer à Natureza pelas ondas, pelo vento…
Por me deixar cresces com olhos de ver, com pernas para me meter em pé, com mãos e braços…
Por me deixar sentir todos os pormenores, desde a remada até à mais complicada manobra que consigo fazer…
Por tudo isto e muito mais, podia agradecer-lhe. Mas se agradecer e engrandecer tudo isto, o que faço eu a quem apresentou o surf ao mundo? A quem apresentou a melhor forma de desfrutar desses presentes dados pela Natureza? Quem soube dar, da melhor forma, uso aos braços, às pernas e aos olhos?
Mas, para agravar a situação, alguém não se limitou a fazer apenas isso, e criou algo que hoje é a vida de muitos comuns como eu.
Mostrou, de uma forma tão clara que até os mais cegos, não conseguem não ver… um modo de vida, uma arte, um cheiro, uma cor, uma cultura.
A esta hora, em qualquer parte do mundo, estaram mais uns tolos a tentar (de uma maneira ou outra) escrever-lhe a agradecer, tal como eu.
Tolos! Mas tentem, tentem…!
Tu (e agora dou-me ao luxo de te tratar por ‘tu’, para criar aqui uma certa empatia) criaste um outro mundo com uma nova filosofia, deste o que homens novos precisavam para construir uma nova humanidade.
A maior parte dos habitantes deste pequeno (grande) planeta azul, passam as suas vidas afastados da água, das ondas, do oceano.
Nós, aprendemos uma nova forma de nos movimentarmos e por mais estranho que pareça, preferimos o mar à terra e a prancha ao carro, o cheiro da maresia ao perfume chanel, as madrugadas na praia às noitadas na LUX, a espera por uma onda à espera na fila de cinema (mesmo que o momento pelo qual estamos a esperar tenha uma duração inferior, e secalhar, até é semelhante ao ultimo).
Para alem disso, esperamos por algo que não temos a garantia que venha, aquela onda perfeita pode não aparecer.
No entanto, quando saímos da agua, estamos apaixonados por ela, mesmo que nunca a tenhamos visto, sonhamos e deliramos com ela, todos os dias.
Este movimento é um bocado estranho, admito.
Eu, por exemplo, pareço uma ‘maluquinha’ que arranja mil e uma escapadinhas para agarrar no seu melhor amigo (o fato isotérmico), ligar ao seu vulto de estimação (neste caso, é o Diogo) e meter-se dentro de agua.
Quando dou por mim, lá estou eu a encher o meu quarto com conchas e fotografias de surf, secalhar, para me tentar aproximar mais do meu habitat natural.
Por isso, o surf é mais que um desporto.
É uma forma de estar, pensar e agir.
O mar, sem nos apercebermos bem disso, dá-nos lições que fazemos transparecer no dia-a-dia. Tenho tanto respeito a ele, como aos meus pais e avós (mal comparadamente), porque também ele me ‘criou’ e educou.
Sem ele, de certo que não seria como sou hoje.
O surf transporta-me para o meu ‘estado zen’, faz-me sentir equilibrada.
Por pior que seja a situação, por favor, deixem-me ir surfar! Depois de surfar, estarei pronta para vos dar as respostas e encarar os problemas ‘tete a tete’.
No momento em que o meu corpo se ergue bem assente na prancha, quando nada me importa a não ser aquele segundo, o ‘agora’, o ‘já’… é nesse momento que encontro as respostas para o depois, para o que vai ser…

Bem, acho mesmo que os surfistas deviam adoptar uma bandeira e assumirem-se como ‘marginais’.

Hasta. Obrigada.